Invisiveis

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Enxergando os “invisíveis”

A invisibilidade do envelhecimento de lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT) é uma realidade. Sofrem com os etarismos da sociedade, por diversas formas de discriminação e pela presunção de que todos são heterossexuais e cisgênero. Ademais, tem maiores chances de estarem morando sozinhos, de não terem filhos e de não apresentarem alguém para chamar em caso de uma emergência.

 

 

Poucos são os estudos que abordam esse tema, principalmente na literatura médica brasileira. Além disso, o geriatra e o gerontólogo podem se deparar com situações desafiadoras em suas práticas ao cuidarem de um idoso LGBT saudável, com demência ou até mesmo em fase final de vida.

Se o cenário heteronormativo e cisnormativo já é regra nos hospitais e nas unidades de saúde, essa situação pode ser até pior em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), onde o respeito à intimidade, aos objetos e às vidas LGBT é uma exceção.

Uma pesquisa de 2010 nos Estados Unidos envolvendo 217 idosos LGBT institucionalizados mostrou que 23% deles já sofreu algum assédio verbal ou físico por parte dos outros residentes e que 14% vivenciou essa mesma experiência, só que praticada pela equipe de saúde.

Por isso, o seu processo de institucionalização é acompanhado por um medo fundamentado de ter que “voltar para o armário”, e quando existe algum local que seja sensível às suas necessidades, esses indivíduos demonstram uma profunda satisfação.

Concluindo, a velhice LGBT é marcada por uma dupla invisibilidade e por necessidades de saúde particulares. Pesquisas e discussões futuras, principalmente no Brasil, são necessárias para a criação de ambientes de saúde mais inclusivos e para combater a solidão e o isolamento social dessas pessoas, fazendo com que o seu cuidado geriátrico e gerontológico seja cada vez melhor.

Milton Roberto Furst Crenitte, CRM 150848

Médico Geriatra

ONG Eternamente SOU – ONG mobilizada pela necessidade da implantação de serviços e projetos voltados a pessoas LGBT60+

Coordenador do projeto “Papo Diversidade”, que pretende sensibilizar cuidadores de idosos sobre temas como a diversidade sexual

Colaborador da Unidade de CardioGeriatria – Incor – HCFMUSP

Professor do curso de Medicina - UNINOVE