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O velho, o novo e o contemporâneo

 
Roberto Dupré 

Atitude. Desde que Zeus mandou os Titãs assassinarem Cronos, nunca o tempo foi tão importante. Zeus sabia que nem mesmo entre os senhores do Olimpo, haveria qualquer tipo de imortalidade enquanto Cronos vivesse. O Brasil envelhece cada vez mais depressa. Mas não de forma homogênea. É pela atitude que os brasileiros acima de sessenta, podem ser classificados em velhos e idosos. A atriz Dercy Gonçalves, aos cem anos de idade, é uma jovem idosa. Mas, há muitos personagens da República, com menos da metade da idade dela, que são arcai-camente velhos. O que define uma coisa e outra? O idoso é um jovem avançado em idade. Está cheio de vida, de curio-sidade e de dúvidas. O velho é aquele que se encarquilhou em idéias antigas e não há o que o faça mudá-las. Tudo que há de novo, de moderno, é rejeitado pelo velho. Seja um novo programa do mundo cibernético ou uma nova proposta de arte. Já o idoso, se aproxima delas e não sossega enquanto não dominá-las.

Um grupo de sessentões se reúne três vezes por semana no ateliê do Museu de Arte Contemporânea da USP, para, pasmem, estudar as tendências da vanguarda mundial nas artes plásticas. Os olhos deles brilham de satisfação a cada passo conquistado. O projeto Lazer com Arte faz parte da Universidade Aberta à Terceira Idade da USP. Há dezoito anos, o professor Sylvio Coutinho mantém esse grupo de idosos mais jovem que nun-ca. Mas não é só ele. No sisudo prédio da Engenharia Química da Escola Politécnica, o Dr. Luiz Roberto Terron inicia outro grupo de jovens idosos no entendimento e na apreciação da música clássica. Também na vanguar-dista Escola de Comunicação e Arte, a Dra. Cremilda Medina e seus assistentes encantam os que sempre sonharam com o domínio do texto e da narrativa.

Há uma certa unanimidade ao tipo de pessoa sexagenária que se dispõe a continuar vivendo, intensamente e aqueles que se refugiam diante de um televisor. Analisando participantes das Universidades Abertas à Terceira Idade em todo o mundo, a Organização Mundial da Saúde constatou que idosos ativos são menos propensos às doenças esperadas para a faixa etária deles: há menos tipos de câncer entre eles do que no outro grupo. Os males que implicam perda de memória ocorrem em menor número.

Uma pesquisa publicada, em maio, pela Fundação Perseu Abramo, de-monstrou que os jovens idosos têm mais e melhor escolaridade e que o grande número de velhos do outro grupo tem imensa dificuldade de intelecção de coisas comuns do dia-a-dia, como anúncios de televisão e programas de nível mais sofisticado. A taxa de desemprego e de exclusão total do mercado é maior entre esses velhos do que entre aqueles idosos.

Um dado interessante: há entre os velhos que perderam o interesse pela vida, o mesmo conceito de velhice que o resto da sociedade tem dos idosos. O de que a velhice é uma doença incapacitante.

Para os jovens idosos, a velhice é apenas mais uma etapa do processo da vida. E eles pretendem vencê-la com a mesma galhardia que tinham na juventude. Recusam a idéia de que morreram e de que não foram avisados.