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À luta, rapazes!

Aos poucos, talentos do passado vão sendo redescobertos

  

 

Roberto Dupré
A questão não é apenas dinheiro. Aliás, a grana é mesmo pouca. Advogado, 73 anos, boa aparência, “seu” Ferraz é um exemplo de competência e agilidade mental. Passou a vida como funcionário numa fábrica alemã de autopeças, gerenciando o departamento de Organização e Métodos. Agora, é o esteio de uma pequena empresa de entregas rápidas que o neto, quarentão, não conseguia tocar sozinho.

Desde que “seu” Ferraz começou o que ele chama de “pagelança”— ouvir muito, dar conselhos, criticar jamais-, o número de acidentes diminuiu entre os motoqueiros e, pasmem, os meninos resolveram encarar mais seriamente suas relações amorosas. Com sua Norton 39 prata e cromada, fazia furor nos tempos em que a rua Augusta era a rua Augusta.

Hoje, o prazer dele é ficar batendo papo com a moçada, nos finais de tarde, sobre motos, namoradas, ficantes e filhos e acabou virando o “velhão” da molecada. Uma espécie de avô que não cria problemas por causa das tatuagens e dos piercings e que sempre tem uma boa idéia ou um bom conselho.
 

 

Diminuindo a necessidade dos meninos de serem “cachorros loucos”, conseguiu manter a rapidez nas entregas e aumentou a segurança em cima das motos. “Seu” Ferraz descobriu, até, um modo de agradar os clientes vips: liga sua velha Norton e faz pessoalmente a entrega do documento importante ou da quantia elevada. Nessas horas ele ri e diz ter criado uma nova profissão: o Office-Velho. Em menos de seis meses salvou a empresa do neto e é conhecido, em várias agências bancárias de São Paulo, como o velhinho que tem sempre um causo engraçado para contar.

“Envelheci, mas não morri”!

Há pessoas como o campeão pan-americano de motociclismo, Alex Barros, hoje beirando os quarenta anos. Muitos campeões ainda freqüentam o quadrilátero do veneno. A maior parte deles aposentados, que descobriram uma nova forma de viver perto das motos: restaurando relíquias do passado , motos que chegam enferrujadas, e praticamente destruídas. Esses “doutores” fazem verdadeiros milagres. Mesmo os jovens motoqueiros sabem que, para ajustar determinados motores ou refazer determinadas peças, é preciso a mão desses sessentões.

Atrás dos balcões desse quadrilátero que já foi conhecido como a “Boca do Lixo”, não é raro encontrar vovós, de cabelos brancos, exímias em descobrir peças para motos novas e antigas.