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Amor na terceira idade

Terceira idade, segunda idade, primeira idade, existirá então uma quarta idade, uma quinta?

Ezio Moura Rinaldi

 

Desde quando Amor tem idade? Quem foi a execrável criatura, o ser doentio, o perverso maligno que inventou essa besteira?

Amamos desde o instante em que somos fecundados, amamos nossas células, nossa mãe, a comida que recebemos através de seu sangue, o carinho que nos faz através de sua barriga, a sua voz, a voz de nosso pai tentando desesperadamente fazer contato conosco como se fossemos um alienígena.

Quando nascemos, amamos tanto que nem chorar queremos apesar do tapa que aquele infeliz do médico, sádico mal-educado, faz questão de veementemente aplicar em nossos traseiros.

Quando nossa mãe nos coloca em seu seio e nos oferece aquele leite maravilhoso, amamos.
Chegamos a pensar que finalmente encontramos o paraíso, pois tudo é carinho, tudo é paz, e tudo é feito para nós, todas as atenções são nossas. É verdade que o pé não responde e a mão está em algum lugar que eu ainda não sei, mas estou certo de que a encontrarei, assim como encontrarei meu pé, e todas as partes de mim que me são importantes.
Estou certo que encontrarei tudo o que é meu nesta vida, terei todo o amor que mereço e que posso dar.

Mas o tempo passa, aprendemos a ler, a escrever a conversar, a entender a crueldade humana e contagiados por esta fome de poder idiota, cometemos nosso primeiro crime. Negociamos nossos sentimentos, vendemos nossa alma ao diabo por um pouco de poder,  a  satisfação do nosso ego.

Como perdemos tempo com coisas fúteis, como nos desgastamos com bobagens que não valem nada, só quando estamos ficando velhos é que percebemos como fomos tolos, como jogamos nosso tempo fora, tentando através do sexo doentio, curar nossas almas desesperadas por amor.

Quantas vezes foi o sexo que nos trouxe a felicidade que procurávamos?
NUNCA! O sexo traz êxtase, e isso se for bem feito e com a pessoa certa, senão, só nos frustra. A “ felicidade” encontramos quando alguém nos ama e quando podemos amar alguém sem medo, desta troca surgirá infalivelmente sexo, e um sexo especial, onde nossas almas tremem, nossos corpos se esvaem síncronos perplexos com tanta beleza!

 

Não é na primeira idade que sabemos disso, pois nem sexo temos, somos um misto de homem, mulher, coisa. Também não é na segunda idade que descobrimos isso, pois estão tão preocupados, os homens, em provar para si mesmos que não são bichas, e as mulheres, que podem ser levianas, que assuntos desta monta não chegam ao nosso cérebro, além do fato de que temos que ter muita “grana”, muitos bens móveis e imóveis. Jamais teremos um orgasmo se não estivermos fumando um Marlboro dentro de nosso iate, ao qual está amarrado um trailer com nossos puros sangues e, no cais, a famosa Ferrari. Ao término do cigarro, a lagosta com gosto de qualquer coisa, servida ao tilintar de cristais repletos de Bourbon ou Champagne. Como somos fúteis, fracos de espírito e de mente nesta época de nossas vidas; justamente quando somos mais belos, somos mais tolos.

 

A terceira idade, que começa não aos 40, 50, 60 mas simplesmente quando percebemos que tudo isso aí em cima é inútil para nossa felicidade, é o momento em que podemos e devemos amar, simplesmente porque merecemos, porque já pagamos o nosso tributo.
A terceira idade começa quando vemos que dividir um miojo com alguém que nos ama, enrolados em um cobertor velho, coçando as pulgas também velhas, pode ser divertido.
Quando percebemos que nem as pulgas, nem a idade nem coisa alguma tem força suficiente para estragar aquele momento, nem mesmo a morte, pois quando ela chegar aquele momento já terá sido vivido e, portanto, será nosso e nem a morte pode nos tirar a felicidade de ter amado.

 

A bem da verdade ela, a morte, algoz de todas as idades, só vem quando descobrimos que somos, na verdade, feitos de amor e, para que não sejamos contaminados com a mediocridade de tantos, nos leva em seus braços para um outro lugar feito para amar, para ser amado, junto ou mais perto daquele que, como nosso melhor amor, é só amor.
É na terceira idade que descobrimos o valor do carinho, do sorriso, de um gesto limpo de caráter,que descobrimos como é fácil ser feliz, como precisamos de tão pouco para ganhar o dia, só um abraço muitas vezes. Não é por solidão, não é por abandono, não é por carência, é pelo gesto, é pela atitude simples de alguém que nos ama, que ganhamos o dia, é por um beijo.

É na terceira idade que sabemos o que é amar e como amar, só não sabemos quanto amar, pois isso não tem medida.
Olhe para trás e pergunte qual jovem cujo espírito seja limpo, qual jovem que saiba o que é amar, não ficaria com os olhos cheios de lágrima de felicidade e desejo por, um dia, ser alguém da terceira idade que, como você,  ama, é amado e não tem vergonha disso.
Não seja egoísta, ame, seja amado e ensine a amar.

É agora na terceira idade que você pode, que você deve, que você tem o direito de ser feliz, que você não deve satisfação a mais ninguém, que você já fez tudo o que disseram que você devia ter feito, é agora que você está livre para amar.
É a sua recompensa por tudo o que já fez, aproveite seu tempo sem medo, sem culpa, pois você já sacrificou tantos amores por tão pouco, não?
Amar, isso só os sábios da terceira idade sabem realmente o que significa e você é um deles.