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Uma amizade de verdade
Projeto incentiva o tratamento de idosos por meio de atividades com cães

 
Keli Vasconcelos


Amor: desejo de dedicação absoluta a outrem. Eis mais uma das definições encontradas no dicionário para este sentimento tão indescritível que movimenta o âmago dos seres humanos. E nessa etapa tão nobre como a terceira idade, amar significa companheirismo - que pode surgir entre indivíduos, mas que também é crescente entre idosos e animais domésticos.

 

A indagação ganha força quando o melhor amigo do homem, o cachorro, torna-se instrumento para tratamentos ocupacionais. Esta é uma das premissas da Atividade Assistida por Animais e da Terapia Assistida por Animais (AAA e TAA), ambas criadas nos Estados Unidos e utilizadas em idosos de abrigos e casas de repouso em vários países como Canadá e na Europa.
 

Em São Paulo, a Organização Brasileira de Interação Homem-Animal Cão Coração (O.B.I.H.A.C.C.) desenvolve há cinco anos o Projeto Cão do Idoso. Sem fins lucrativos, a ONG vive de parcerias e da venda do livro Terapia e Animais (Noética Editora, R$ 39) que fala sobre este tema.

O autor e presidente da associação, Jerson Dotti, explica que a Terapia Assistida necessita de ajuda de profissionais de saúde para orientar donos e animais durante sessões direcionadas como fisioterapia, caminhadas e exercícios corporais e mentais. As atividades acontecem nas instituições às terças, sextas-feiras e aos domingos.

“Ambos formam uma equipe. Por ser um processo terapêutico, participam também médicos e adestradores que avaliam o desempenho do animal periodicamente. A TAA é mais direcionada com cães, pela facilidade comportamental”, afirma Dotti.

O programa assiste cerca de 350 idosos e as vantagens são inúmeras como a elevação da auto-estima dos pacientes. “A evolução aparece semana a semana e é mensurada por meio de estudos científicos”, completa o presidente.

Uma das entidades atendidas pelo Projeto é a Casa dos Velhinhos de Ondina Lobo, localizada na região de Santo Amaro, zona sul da capital. São promovidas tarefas lúdicas como música, decupagem, desenho, pintura, montagem de bijuterias. A casa também se mantém com doações. “Nossa Casa foi fundada há 55 anos e atendemos pessoas desprovidas de recursos de todos os estados”, conta Dea Moraes Roberto, presidente do Conselho de Administração do espaço.

Desde a sua implantação, os 80 idosos moradores do Ondina Lobo recebem a visita dos cães da Organização e os resultados já são avaliados. “Fomos os primeiros a aceitar esse projeto. No início, não era considerado como terapia. Hoje, estamos observando como os idosos irão proceder ao método”, relata Dea.

As raças recomendadas para os idosos são as chamadas mais inteligentes e de fácil treinamento, conforme aponta o veterinário, Luiz Felipe Caldas. “Os de grande porte como o Labrador e os menores, como Yorkshire e Poodle, são os que nós aconselhamos, mas não há uma regra específica. É preciso tomar cuidados como vacinação anual e com a limpeza do lugar onde vivem, pois eles podem ingerir qualquer coisa que vêem. Recebemos muitos casos de gastrointerite (diarréia) no consultório”.

No Brasil, cerca de 27,9 milhões de cachorros e 12 milhões de gatos são considerados membros da família, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal). Para os idosos sozinhos, o convívio vai além. “O animal vira companhia e uns até trocam um prato de comida pelo carinho do dono”, enfatiza Caldas.
Afago, proteção e principalmente fidelidade. Estes são os ingredientes de uma amizade verdadeira entre o idoso e seu bicho de estimação. Mais uma das razões para ainda acreditar na idéia de que amar é preencher-se.