Memória- Dr Fábio Sallem

Imprimir

Estilo de vida afeta no desempenho da memória

Neurologista explica os mecanismos, principais doenças e estímulos.


Um dos componentes mais importantes dentre todas as funções cognitivas, a memória arquiva experiências no nosso cérebro. Importante destacar que há fatores que interferem negativamente no seu desempenho, mas um estilo de vida saudável ajuda a preservá-la.

Dr. Flávio Sallem, neurologista do Hospital das Clínicas e Hospital do Coração de São Paulo e criador do Blog Neuroinformação (neuroinformacao.blogspot.com.br), explica os mecanismos da memória, principais doenças relacionadas e dicas sobre como estimulá-la.

Dicas para estimular a memoria

1.     Atenção redobrada

2.     Repita várias vezes o que precisa ser memorizado

3.     Organize-se

4.     Crie procedimentos

5.     Mantenha uma agenda

6.     Aprenda algo novo

7.     Alimente-se de forma saudável

8.     Durma bem

9.     Mexa-se

10.   Desacelere-se

Mecanismos da memória

Podemos dividir a memória em implícita e explícita.  A memória implícita procedural é aquela relacionada a aspectos motores de nossa vida e que podem não chegar à consciência, como aprender a andar e andar de bicicleta, a dirigir um carro ou realizar movimentos que acabam por se tornarem automáticos. Já a memória explícita divide-se em memória declarativa e autobiográfica. A memória autobiográfica é aquela relacionada a nós mesmos como indivíduos: nosso nome, nossos familiares, o que fazemos, como trabalhamos, onde estudamos, onde moramos, etc. A memória declarativa, mais afetada em doenças como a doença de Alzheimer, relaciona-se aos eventos do dia a dia: como o que teve para jantar, o que o vizinho falou ontem, quem  foi o último presidente do Brasil ou que dia é hoje.

Processo continuamente dinâmico, a memória registra os eventos e constantemente os desmantela e reconstroi. Ela não é função de uma única estrutura cerebral, mas é recebida em um circuito composto de várias regiões do córtex do cérebro havendo conexões entre estas regiões de modo a dar a memória contexto e emoção. Na verdade, a construção da mesma possui fases específicas. São elas:

·        Fase de registro - onde a memória é recebida – em geral nas estruturas cerebrais localizadas na parte interna do lobo temporal do cérebro – armazenamento onde a memória é permanentemente gravada.

·        Fase de evocação - quando trazemos a memória de volta para responder a um estímulo, por exemplo, uma pergunta ou uma situação. Algumas doenças de Alzheimer prejudicam o armazenamento da informação. Já a depressão, pela alteração da atenção, prejudica o registro das informações. E outras como formas de demência – a demência fronto-temporal e lesões do lobo frontal do cérebro, por exemplo – podem prejudicar a evocação. Ou seja, a memória existe, foi registrada e armazenada, mas a pessoa não consegue trazê-la à superfície da consciência.

Jovens também podem ter falhas de memória

Ao contrário do que se pensa a perda de memória não é normal, seja na juventude ou na terceira idade, mas quando ocorre é mais comum em indivíduos acima de 60 ou 70 anos de idade. Os sintomas mais comuns de problemas de memória são a incapacidade de lembrar fatores recentes, como por exemplo onde foi guardado determinado objeto, e quando o indivíduo conta a mesma história várias vezes como se fosse a primeira vez que estivesse narrando aquele acontecimento.

Em jovens, a causa mais comum da perda de memória é a desatenção, afinal, precisamos estar atentos ao que fazemos para nos lembrarmos depois. Essa desatenção geralmente é causada por estresse, vida agitada, múltiplas funções ou perda de sono. Além disso, há as causas psíquicas como depressão e ansiedade, que impedem uma boa concentração e a retenção das informações recebidas.

Melhorando o desempenho da memória

Manter um estilo de vida saudável, com boa alimentação, diminuição de gordura e açúcar e o consumo regular de frutas e verduras, praticar exercícios físicos regulares e evitar o estresse auxilia na manutenção do bom funcionamento da memória. Já o tabagismo e o uso crônico de álcool são considerados seus grandes inimigos.

O cérebro não é um músculo, mas assim como eles, quanto mais o usamos melhor ele fica. Logo ler sempre, aprender novas línguas, investir em um novo aprendizado, como um curso de música ou uma nova faculdade, podem ser aliados na manutenção de uma mente afiada, e, por conseguinte, de uma memória saudável.

Principais doenças

A principal doença e a mais temida é a doença de Alzheimer. A prevenção não é total, mas caso a pessoa esteja fadada a tê-la pode-se adiar através de um estilo de vida saudável. Além disso, colesterol alto no sangue é fator de risco muito importante e manter o colesterol baixo através de medidas ditadas pelo médico pode ajudar a prevenir a doença.

Apesar de poder ocorrer em pessoas acima dos 55 anos de idade, a doença de Alzheimer torna-se mais comum à medida que a idade avança e, após os 75 anos de idade, os riscos de uma pessoa ter a doença, mesmo sem fatores de risco cardiovascular, dobra a cada ano. Ou seja, o principal fator de risco para a doença é a idade avançada e pessoas com histórico familiar materno também têm mais chances de desenvolver o problema.

Outras doenças podem causar perda de memória e outra causa importante são os AVC’s.

Avanços da medicina

Se tratando de doença de Alzheimer, que até 100 anos atrás era considerada doença rara, hoje sabemos ser a causa mais comum de demência primária do mundo. Seu diagnóstico ainda não é feito por um exame único e sim por uma combinação de exames que nos permitem dá-lo com relativa segurança. Os exames de imagem como a ressonância magnética, demonstram apenas a diminuição do volume de certas áreas do cérebro.  Entre as mais novas realizações no campo do diagnóstico, temos a mensuração no líquido cerebral de duas moléculas (o beta-amiloide e a proteína tau.)  relacionadas à doença, testes genéticos em casos supostamente hereditários e da mutação dos genes da pré-senilina 1 e 2, que podem ser solicitados pelo médico. Outros exames como o SPECT cerebral (tomografia com emissão e próton único) ou o PET cerebral (tomografia com emissão de pósitrons) podem ser úteis em casos selecionados. Apesar de muitos avanços no diagnóstico da doença, este ainda tem como base a história clínica e o exame neurológico normal.

Em termos de tratamento, ainda não há uma medida que estacione, regrida ou cure a doença, mas se controla com medicamentos. Recentemente, grupos de cientistas do exterior testaram a colocação de um marca-passo cerebral para a doença, conseguindo a melhora de 1 entre 6 pacientes com a doença, demonstrando ser este um tratamento promissor, mas mais estudos ainda são necessários para confirmar esta linha de pesquisa. Há outro estudo onde cientistas americanos acreditam que células do olho podem ajudar no diagnóstico futuramente.