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Psoríase: uma questão de pele
Presente em pessoas de todas as idades, o portador tem
uma vida normal ao fazer o tratamento adequado

 
Keli Vasconcelos


Você sabe o que é Psoríase? Muitos desconhecem essa enfermidade que atinge cerca de 1 a 3% da população mundial.Costuma aparecer em homens e mulheres na faixa dos 20 ou depois dos 50 anos e acomete o maior órgão do nosso corpo: a pele.

A doença não é nova. Há registros datados do século III sobre esta inflamação crônica da parte cutânea e das articulações, caracterizada pela descamação e formação de placas avermelhadas em locais como costas, joelhos, cotovelos e nas chamadas zonas nobres: mãos, pés e couro cabeludo. Em casos mais graves, pode-se desenvolver Artrite Reumatóide (AR), chamada de Artrite Psorática .
 
Antes e depois do tratamento. 

“A pele tem um ciclo normal de renovação que dura de 24 a 28 dias. Já no portador, devido, a priori, uma disfunção genética, esse processo torna-se rápido:em aproximadamente três dias a pele é renovada, criando uma camada branca que chamamos de ‘nacarada’,” explica a dermatologista Dra. Gladys Aires Martins, chefe do Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário de Brasília.

O que ainda instiga a comunidade cientifica é sobre a origem da psoríase. Além da hereditariedade (não necessariamente passada de pais para filhos), traumas e possíveis manifestações alérgicas (nos predispostos), fatores psicológicos e externos como mudanças climáticas, ansiedade e depressão são a porta de entrada para o desenvolvimento do mal, que não tem cura e na maioria das vezes não provoca dores.

O controle é feito por meio de diversos tratamentos sistêmicos, que incluem a utilização de pomadas nos casos mais simples (quando afetada 5% da pele), remédios orais ou injetáveis e fototerapia. As intervenções mais modernas estão nos medicamentos biológicos que usam de proteínas produzidas pelo próprio agente formador da psoríase para a diminuição dos surtos.
“Nos idosos que apresentam lesões disseminadas por todo o corpo, os tópicos não são convenientes por causa das dificuldades de aplicação em pessoas nessa idade. A indicação deve ser particularizada caso a caso. Algumas medicações como a Acitretina têm a vantagem de acesso pela rede pública de saúde. Aliado a terapia, o paciente deve usar de roupas de algodão para facilitar a respiração natural da pele sensível e manter a qualidade de vida, evitando abusos como álcool e estresse”, salienta Dra. Gladys.

A psicóloga Ana Maria Teles Nobre Pedrosa, 59 anos, soube em uma consulta ao dermatologista que tinha a doença,“Soube que tinha há 5 anos. Na época, fazia hidroginástica e notei algumas manchas na barriga. Pensei que era micose e busquei atendimento. Após uma biopsia cujo resultado foi ‘compatível com psoríase’, os médicos que procurei desde então acreditam que desencadeou-se por um medicamento, já que na ocasião eu estava vivendo uma fase muito boa sem motivos para responsabilizar o emocional”, conta.

Depois de procurar esclarecimentos em livros e na Internet, e de orientar os familiares e amigos, Ana descobriu que duas primas em segundo grau eram também portadoras.

Cerca de 80% da sociedade não sabe o que é psoríase. No Brasil são quase 5 milhões de portadores, segundo dados da Associação Brasiliense de Psoríase (ABRAPSE).Muitos indivíduos se escondem no invólucro do silêncio com receio de serem rejeitados e o apoio dos grupos é a alternativa para conscientização.

O presidente da ABRAPSE e também portador, Haroldo Tajra organiza trabalhos direcionados ao público em geral e a distribuição da cartilha “Combatendo a Psoríase com Informação”, criada pelos membros da entidade, sob supervisão da Dra. Gladys. “Também fazemos caminhadas, palestras em escolas, participamos de feiras de saúde. No momento planejamos as atividades do Dia Nacional de Combate à Psoríase. Faremos uma campanha para publicação da segunda edição da cartilha. A novidade será a inserção de depoimentos de pacientes”, argumenta Tarja.

Instituído pela Organização Mundial da Saúde, 29 de outubro é o Dia Mundial de Combate à Psoríase, iniciativa aderida em vários países e a Associação luta para que a data seja adotada aqui. Tarja enfatiza. “O projeto já foi aprovado no Senado Federal e aguarda aceitação final na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Nossa expectativa é que seja sancionado pelo Presidente da República ainda esse ano”.

A batalha maior para desmistificar a psoríase está na maneira de como cada um convive com o problema. A psicóloga Ana começou por si própria. “Creio que lido bem com a psoríase. A aceitação começou em mim para depois dimensionar a todos que me rodeiam. Isso não deve afetar nossas vidas. Costumo dizer que é uma tatuagem que Deus colocou em minha pele e não deixo de fazer o que me dê alegria de viver”, exclama.

Com certa poesia, podemos definir que a pele é carinho, contato e a primeira região que anuncia o passar dos anos. A psoríase seria mais um capítulo nesse livro de sensações que é o ser humano.