Las Carmens
Uma “hestória” de família, metade verdade, metade mentira
e que aumenta a cada dia...
São quase 100 anos que começa mais ou menos em 1913.
A primeira Carmen
-Cretino!, pensava segurando a cabeça da filha pequena que não parava de vomitar desde o dia do embarque.
- Grande filho da puta! A vida foi mais tranquila, 3 filhas, Espanha,perto da família...
-Carmen! chama o marido ( o cretino,grande filho da puta, que a jogou nesta aventura...)
-Que quieres Pedro?
- Estoy malo, me duele la barriga!
Fuzila um olhar. - Já vou.! E pensa “ El cagon, grandíssimo filho de puta”.
Muita saudade de casa, febre, as crianças, o marido, de agora em diante batizado de El Cagon, saudade, criança El Cagon.....
Foram dias e dias.A sensação de torpor, sonolência, febre e gripe durou até muito depois da chegada.
Quando " acordou" já estava no interior de São Paulo. Uma terra vermelha tingia tudo a sua volta.
O ar era vermelho, o calor insuportável parecia uma filial tupiniquim do inferno.
Foi para a colônia.Casinha simples, chão de terra batida, que recebia todos os dias uma camada de cinza do fogão a lenha .
Lavoura, casa,lavoura , casa....uma ciranda sem fim.
O tempo passando as filhas crescendo....
Quem sabe uma casa bem e me tira daqui - pensou
Mais tempo, poeira e lavoura.
El Cagon, cada dia menor no coração e na vida.
Um homem insignificante que foi ficando invisivel a ponto de esquecerem seu nome.
Acabou virando um utensilio sem uso. Sua " pessoa" foi apagando, desbotando, desfiando.Um dia sumiu como chapéu de caipira, aqueles de palha que vão desmanchando aos poucos e ninguem se dá conta. Nosso heroi desbravador, El Cagon, se perdeu na paisagem e no tempo . Não se sabe se morreu, se fugiu se foi abduzido , simplesmente apagou. Não deixou nada a não ser um pedaço de palha no chão da sala.
Carmen, claro, varreu a palha, para bem longe da casa, enquanto pensava:" Esta na hora de casar as meninas",afinal a mais nova já tinha 15 anos.
Desejou tanto casar as filhas , fez tanta promessa, novena, e torturou tanto Santo Antonio que em menos de 1 ano casou as três.
A mais velha , como o pai, El Cagon, caiu no esquecimento, casou e literalmente mudou.....
A do meio, em uma das festa da colonia, conheceu o futuro marido, negro , cabo de polícia, e se apaixonou pela cor.Teve 5 filhos, morreu velha e foi feliz.
A caçula, diferente da mãe, que era" o cão de buceta e saia", tinha uma bondade e clareza sem fim.
Ela é a nossa segunda Carmen.
Morena, alta, muito magra , com olhos negros enormes.
A melhor das três filhas.
Casou com um italiano, administrador da fazenda. Era loiro, bonitão e também tinha vindo procurar uma vida melhor no Brasil...ai começa outra história....
....