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Diabetes: uma assassina silenciosa
O mal que já atinge cerca de 200 milhões de pessoas em todo mundo aparece de forma despercebida e acomete jovens, adultos, idosos e gestantes. A grande maioria dos portadores não sabe que tem a doença


Maristela Orlowski


Ele chega sorrateiramente, de modo silencioso. Não escolhe sexo, nem idade. No mundo, cerca de 200 milhões de pessoas convivem diariamente com ele. O Diabetes mellitus é uma doença silenciosa, sem sintomas, que acomete jovens, adultos, idosos e gestantes. É o terceiro mais grave problema de saúde no mundo, perdendo apenas para as doenças cardio-circulatórias e para o câncer.

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o diabetes é a sexta doença que mais mata, respondendo por 25 mil óbitos anualmente. Aqui, há 11 milhões de pessoas com o problema.

De cada 100 adultos, pelo menos sete têm diabetes. Já na população acima de 60 anos, o número é ainda mais preocupante: de cada 100 pessoas, 20 são portadoras da doença.
O grande problema é que a maioria, cerca de 50%, não sabe que é portadora da doença.

Quando os sintomas aparecem, os níveis de açúcar no sangue já estão muito acima do normal, ocasionando inúmeras complicações crônicas, como cegueira, infarto do miocárdio, problemas na circulação, insuficiência renal e hipertensão arterial. Em casos graves podem ocorrer também impotência sexual masculina, neuropatia, ulcerações, infecções, gangrena, com conseqüente amputação dos membros inferiores, e morte. Um exemplo disso ocorreu com a dona de casa Iracema Nunes Pires, de 85 anos. Convivendo há 20 anos com o diabetes, Iracema conta que nem fazia idéia que sofria do mal quando começou a ter problemas de circulação. “Quando descobri que tinha a doença tive que mudar totalmente meu estilo de vida, principalmente a minha alimentação”, relembra. “Não foi fácil deixar de comer doces”, brinca. “Agora que tem tudo diet e light é mais fácil”, acrescenta.

De acordo com o endocrinologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), João César Castro Soares, o diabetes é uma doença que preocupa, já que o tratamento depende do estilo de vida e cuidados adotados pelo paciente para evitar complicações. Com o objetivo de divulgar mais informações sobre complicações do diabetes e o impacto que a doença ocasiona na vida das pessoas, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) lançou em 2005 a campanha “Cuide dos seus pés: evite amputações”.

Segundo Soares, atualmente, o número de amputações causadas pelo diabetes é muito alto. Conforme dados da Associação Nacional dos Diabetes, a cada 30 segundos ocorre uma amputação de membros inferiores em conseqüência da doença e cerca de 40% a 70% de todas as amputações de membros inferiores são decorrentes do diabetes.
“A prevenção e o diagnóstico são de suma importância e o cuidado adequado com os pés reduz significativamente o risco de amputação”, explica Soares. “A grande maioria desse tipo de complicação é precedida por úlceras nos pés”, complementa o endocrinologista.

Causas

O Diabetes Melitus é causado pela deficiência parcial ou completa de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e responsável pelo controle do nível de glicose ou açúcar no sangue. Essa deficiência impossibilita que a glicose seja absorvida pelo organismo e, como conseqüência, o indivíduo apresenta hiperglicemia (alta taxa de glicose no sangue).


A partir daí, desencadeia-se uma série de fenômenos que caracterizam a doença, tais como: glicosúria (a glicose excessiva é eliminada pela urina, tornando-a doce); poliúria (a pessoa urina mais que o normal); polidipsia (a pessoa tem mais sede e passa a ingerir líquidos exageradamente); emagrecimento e fraqueza devido à falta de energia que provém da glicose. 
Embora não tenha cura, o diabetes não impede o paciente de levar uma vida normal. Para isso, é necessário um diagnóstico precoce e acompanhamento médico. É importante também, a realização periódica de exames para a verificação da taxa de glicose no sangue, cuja taxa normal é de 60-100mg por 100dl de sangue.

Diagnóstico

Para detectar a doença basta fazer o exame de glicemia (dosagem de açúcar no sangue) e de glicosúria (dosagem de açúcar na urina). O teste de glicemia é o mais importante e direto, além de ser simples. Consiste em retirar uma gota de sangue do dedo e aplicá-la sobre uma tira reagente que indicará uma determinada cor conforme o nível de açúcar no sangue. Há dois tipos de diabetes: o diabetes tipo-I ou insulino-dependente e o diabetes tipo-II ou não-insulino-dependente. No primeiro caso, não há produção de insulina no organismo, já que as células responsáveis pela sua produção foram destruídas. O tratamento consiste em injetar insulina subcutânea diariamente. Atinge principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens e é responsável por 10% dos casos totais de diabetes.

Já no segundo tipo, há produção de insulina, porém ela não é aproveitada de maneira correta. Não se sabe a verdadeira causa desse tipo de diabetes, mas a hereditariedade tem grande importância. Atinge adultos acima de 40 anos, e responde por 90% dos casos. Está intimamente ligado à obesidade, no entanto, isso não quer dizer que todos os obesos serão diabéticos. O tratamento consiste de dieta balanceada e exercícios físicos regulares, para reduzir o nível de gordura e controlar a glicose. Às vezes, é recomendado o uso de medicamentos, como hipoglicemiantes orais para o controle do açúcar no sangue.

Recomendações

É recomendável que o paciente diabético, além de tomar os comprimidos ou injetar a insulina na medida correta, faça uma dieta balanceada e exercícios físicos regulares. Uma alimentação rica em fibras auxilia no controle do colesterol e do diabetes. Portanto, opte por frutas cruas, verduras, legumes, cereais integrais (arroz, farinha de trigo), pão integral.
Evite a ingestão de geléias, mel, chocolate, doces, refrigerante comum, bebidas alcoólicas, suco de frutas industrializados, tortas, pudins e biscoitos recheados. Além disso, dê preferência às carnes brancas, como peixes e aves.

Segundo Soares, a grande novidade que promete acabar com o sofrimento dos diabéticos está prevista para chegar ao mercado brasileiro ainda neste ano: as insulinas inaladas. Outra promessa são as pesquisas com as células-tronco. Segundo estudos, existe a possibilidade de que elas possam dar origem às células produtoras de insulina. “Até lá, cabe aos diabéticos se cuidarem da melhor forma possível, utilizando-se de técnicas e medicamentos disponíveis e, principalmente, de uma dieta saudável e equilibrada”, finaliza o endocrinologista.

Serviço:
Unifesp - Escola Paulista de Medicina
R. Coronel Lisboa, 826 - CEP: 04020-041 – São Paulo, SP -Tel.: (11) 5085-0199

Sociedade Brasileira de Diabetes
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